Área do Rio Arkansas

Estava de noite, e eu precisa me distrair, sair da rotina. O tédio era muito grande, e não aguentava mais ouvir as histórias de minha mãe, para me juntar ao povo da fé. Precisava sair um pouco, para descansar e por minha mente no lugar certo. As luzes brilhavam no local, muito chamativas, parecendo me hipnotizar. Acho que ficar sozinho em parque de diversões era algo estranho, mas não tinha mais ninguém com quem compartilhar. A única pessoa, ou melhor, coisa que falou comigo normalmente, sem me menosprezar foi a Mary, que não via a muito tempo. Eu vagava sozinho pelo parque, quando vi uma garota isolada dos outros. Ela me lembrava a Mary, não sabia o porque. Fiquei de frente com a roda gigante, e fitei-a. Nunca tinha andado em um. Na verdade, a última vez que estive em um parque, meu pai ainda estava vivo, e ainda achava que éramos uma família normal... Mas ultimamente, isso tem se mostrado uma mentira.

Uma alegria me enchia no peito, lembranças boas de minha infância perdida. Estava realmente hipnotizado com as luzes e com o tamanho daquele brinquedo, qunao de repente, minha atenção é tomada por um barulho de suspiro, daqueles seguidos de choro. Eu me viro, e deparo com a garota que havia se excluído para observar o lago. Não sabia porque estava tão triste num local tão feliz. Não fazia sentido, tanto quanto eu estar lá sozinho. Caminho em direção á garota, e me agacho em sua frente, olhando para o seu rosto.

Oi? Você ta bem?

Falo com um tom preocupado, olhando diretamente em seus olhos. Ela estava com os olhos vermelhos e inchados, como se fosse chorar por horas e horas naquele momento. Ele deveria ter uma história tão triste quanto a minha, e deveria estar tentando pensar.

Elas estava realmente bem? Não acho que estava, ninguém chora sem motivos. Eu olhava para ela, com a sensação que eu devia estar vendo alguma coisa, mas não sabia o que era. Ela tinha uma aparência estranha, mas era bonita. Era uma menina loira comum, eu acho. Tiro uma mecha de cabelos que caia sobre seu rosto e volto a falar.

Tem certeza? Para alguém ficar triste num parque de diversão deve ser algo sério!

Fitava seus olhos, sem entender o motivo de sua tristeza. Nem eu conseguia ficar triste naquele lugar, repleto de animação e boas energias. Abri um sorriso para a garota, tentando animar ela. Observei cada detalhe dela, tentando memorizar, e descobrir o que tinha nela que eu não conseguia distinguir. Será que ela era igual a Mary? Não sei, mas isso seria muita coincidência.

Eu fito ela, sem compreender ao certo. Lembranças? Que tipo de lembranças? Atrás de mim, podia-se ouvir o grito de crianças em brinquedos. Me levanto, olhanod ao redor. Sinto um vento frio, e começo a tremer um pouco.

Posso me sentar do seu lado?

Começo a me esfregar, tentando me aquecer. Sento do lado da garota, e olho em seus olhos novamente.

Tudo bem eu saber sobre suas lembranças?

Apesar de todos meus problemas, depois de me encontrar com Mary decidir mudar um pouco. Ultimamente tenho tentando fazer amizades, e me importar mais com os outros. Claro que até agora ninguém quis falar comigo, ou deixou sentar perto dele ou dela. Essa garota me parecia diferente dos outros, e muito interessante. Talvez eu consiga fazer alguma amizade, quem sabe. Espero que sim, e possa ajudar a sorrir. Aposto que ela ficaria linda com um sorriso no rosto.

Chorar? Então ela estava certa em vir aqui. Devia estar tentando se animar, para poder esquecer os problemas. Fico sem o que pensar, mas logo percebo que ela não estava com frio como eu. Mas ela não estava agasalhada. Como pode? Muito estranho isso.

Não está com frio? Deve estar uns 17 graus!

Olho para ela como se eu soubesse algo mas havia esquecido. Mas logo ignoro isso.

Olha, se quiser, pode desabafar comigo, qualquer coisa, eu estou aqui, posso servir de ombro para chorar. Ponha para fora!

Só depois percebo como soou aquilo. Não queria força ela a fazer algo que não queria, mas acho que seria bom ela por para fora, como eu fiz algumas semanas atrás. Isso poderia aliviar ela, além de ajudar a superar o problema. Eu não sairei dali até ver um sorriso brotando de seu rosto! Ponho o braço por cima de seu ombro, querendo demonstrar amizade, com um grande sorriso. Eu sabia que estava parecendo um bobo, mas desde que ela sorrisse, por mim tudo bem.

Olho para o horizonte, com um olhar vago. Acabei de fazer besteira. Estava mesmo parecendo algo forçado, mesmo não sendo isso que eu queria fazer. Pelo jeito ainda não consegui aprender como funciona o relacionamento. Mas será que se eu trocar minhas lembranças com ela, talvez ela se sinta melhor?

Se eu lhe contar a minha, você conta a sua? Também tenho uma história triste, mas uma garota me ajudou a superar isso...

Meu olho se perdia na noite, como se eu estivesse tendo um flashback. Aos poucos, vinham lembranças de meu pai. Mas balanço a cabeça, tentando me controlar. Não quero ficar triste. Se eu ficar triste, não terá sentido eu tentar consolar ela. Mas o que eu to pensando? Agente mal se conhece, sou apenas um estranho. Como posso esperar confiança dela tão rápido? Como sou burro...

Sabe... Acho que estou forçando a barra... Desculpe. Acho que não iria contar algo tão íntimo para alguém que acabou de conhecer...

Olho para baixo, um pouco culpado. Mais uma vez não consegui fazer direito.

Sua mãe também está morta? Pelo jeito não éramos tão diferentes.Eu olho para ela, com um olhar refletindo o luar.

Bem... Nossas histórias não são tão diferentes...

Pego em seu queixo, e enxugo suas lágrimas com o polegar. Passo meu braço envolta de suas costas novamente, tentando confortá-la. Eu deveria contar minha história também? Talvez ela não acredite em mim, e zombe... Pode ser que ela compreenda minha história, mas pelo menos eu sei o que matou meu pai... Eu acho.

Meu pai também foi morto, a algum tempo atrás...

Volto meus olhos para o horizonte novamente, e junto minhas mãos, brincando com os polegares. Escuto crianças se divertindo atrás de mim, e penso se Isabelle já teve esse tipo de diversão. Perdeu a mãe quando chegou... É uma grande perda e coincidência.

Realmente dói... E muito. Eu sabia bem como ela tinha se sentido. Acompanho seus olhos até a noite estrelada, e relembro o último dia em que encontrei meu pai. Estava fazendo compras com ele, quando algo aconteceu. Apenas suspeitas me cercam, mas um dia, eu sei que irei descobrir.

Eu sei que dói...

Meus olhos voltavam a refletir a lua. As luzes do parque estavam iluminando o local, mas mesmo assim, não conseguia ver Isabelle direito.

Tempo? Uma semana? Um mês? Um ano? Sinceramente, eu nem sei mais...

Eu havia parado de contar a muito tempo sobre isso. A morte de meu pai se tornou um taboo, então agente não lembrava de sua data de morte. Balanço a cabeça, como se tentasse esquecer aquilo. Por mais que eu tenha melhorado, eu nunca ia conseguir me esquecer completamente. Junto minhas mãos, e mecho meus dedos nervosamente.

Ao perceber que a conversa estava se levando para um momento triste de memórias ruins de nossos passados, tento desesperadamente mudar o assunto. Empurro a garota, tentando desequilibrá-la, fazer ela rir um pouco.

-Vamos lá! Vai ficar assim a noite toda?

Um sorriso longo e feliz aparece em meu rosto. Estava uma noite muito linda, com o céu estrelado, e não deveríamos estragar com algo tão triste como isso. Mas infelizmente, não sabia o que fazer. Estava sem idéias. O que poderíamos fazer para nos animar?

-Vamos nos animar! O que gosta de fazer?

Me levanto junto com ela, e me viro para admirar o parque. AS luzes estavam chamativas, e pareciam me seduzir a ir em um brinquedo. As cores... Os movimentos... Estava ficando hipnotizado. Crianças gritavam de alegria, junto com adolescentes, e até alguns adultos. Olho de novo para Isabelle, que refletia as luzes em seus olhos. Pego em sua mão, e a levo até o parque. Eu olhava para ela com um sorriso, que esperava fazer ela sorrir também. Ao chegar no centro do parque, pergunto.

-Qual você quer ir primeiro?

Olhava todos aqueles brinquedos. Parecia uma criança. Aquele lugar podia sempre animar alguém, e esperava não ser diferente com a Isabelle. Ela tinha algo curioso que lhe envolvia. Parecia que escondia algo de mim.

Examino bem as opções. Achei melhor ir para a roda gigante, pois ela ainda estava meio caída, e não iria curtir direito a montanha russa. Aponto para a roda gigante. Pego na mão dela novamente, e puxo até a roda. Entramos em uma das cabines, e logo começou a girar. Observo o mundo lá fora. A cidade estava brilhando, com luzes acesas. Quase podia escutar o barulho das crianças correndo na rua, os casais se beijando. Olhei para uma ponta, em frente á um lago, e logo vejo minha casa. Aponto para lá. Estava tudo apagado, como sempre.

Veja! Ali é minha casa!

Logo meu sorriso de criança se fecha. Olho para uma área meio escura da cidade. Havia uma praça... A mesma praça onde vi meu pai pela última vez. Mais um pouco para a esquerda, o antigo prédio, com todas as luzes acesas, exceto a de meu antigo apartamento. Minha mão abaixa, e meu olhar se fixa naqueles locais.