Área do parque

Peter havia recebido uma nota baixa no colégio. A primeira de sua vida. Não chegava a ser uma nota vermelha (era uma nota na média), mas mesmo assim ele ficou bravo. E com medo, pois sabia que seus pais ficariam muito bravos com o mesmo. Portanto, foi para o Parque de Diversões. Por sorte, havia trazido dinheiro, com o qual comprou o bilhete de entrada. Já estava escurecendo, seu relógio indicava 18 horas. O céu estava nublado, mas não choveria, pois os ventos empurravam as nuvens para longe da cidade. Algumas poças de água no chão indicavam que já houvera chovido. O humano tirou a prova amassada do bolso e jogou-a em uma poça, pisando nela e chutando-a pra dentro de um boeiro. Pronto, só precisava achar uma desculpa para não ter recebido a prova ainda. Andou um pouco sem rumo, até decidir ir para a Roda Gigante do Parque. Não tinha medo de altura, aquele seria apenas o primeiro brinquedo. Um sorriso brotou em seus lábios, com a certeza de que demoraria a voltar para a casa e ver seus pais-coruja novamente.

Peter notou que ela o percebera e cumprimentara-o. Em resposta, também falou:

-Oi.

Voltou a ouvir música. Percebendo que ela olhava para fora, tomou aquilo como uma reação ao fato de ele estar de fones de ouvido. Desligou-os, guardando em seu bolso, junto com o celular. Virou o olhar para o lado dela, também olhando para o céu. Sem deixar de olhá-lo, falou:

- Não gosto muito de dias de chuva. - Ri baixinho. - Sou Peter. Peter Blaine.

Não fez a clássica pergunta, como que pedisse a resposta. Estava acostumado a esta vir automaticamente, mas também não se importava quando não era respondido. Continuou olhando para as nuvens negras que se afastavam, de onde elas saíam o céu agora laranja se mostrava novamente, com algumas nuvens brancas, como que retardatárias. O por do Sol iniciava-se, apesar de não ser possível ver o astro-rei. A Estrela D'Alva [na realidade, o planeta Vênus] começou a exibir seu brilho, oriundo do reflexo dos raios solares em sua superfície. Suspirou, com aquela beleza, e esperou a resposta.

Peter ouviu o que ela falou. Sua voz soava-lhe um tanto familiar:

- Pepita Wor, prazer.

O nome também soou-lhe familiar. Muito familiar. Tentou procurar em sua mente de onde conhecia aquele nome. Shopping, provas públicas, cinemas, escolas... Virou-se para ela, olhando-a, e sua mente deu um clique. Ele lembrou-se de quem era ela. Como podia não lembrar? Pepita era a melhor amiga do humano na época em que estudavam juntos, em Nova York. Estudaram desde os primeiros anos de escola até pouco tempo, quando ela, misteriosamente, saíra da cidade. Enfim, encontrara-a novamente. Não se segura e abraça ela.

- Lembro sim, Pepi! Quanto tempo não nos víamos!

Peter sorri continuamente enquanto ela fala. Porém o sorriso desaparece, lentamente, quando ela pergunta:

- Como anda a Famila?

Abaixou a cabeça. Solta-a do abraço, afastando-se um pouquinho. Escolhe as palavras, formulando a frase. Não queria descarregar nada nela, não seria nada educado. Por fim, falou:

- Nada bem, Pepi. Briguei com meus pais hoje, por causa de uma nota regular. Ultimamente, não ando conseguindo entendê-los. Sinceramente, não estou muito afim de vê-los por algum tempo. Mas voltarei para casa antes do amanhecer. Ainda não estou louco.

Força-se a sorrir. O telefone dela toca, ele se apoia no estofamento do banco, enquanto ela fala rapidamente. O menino não prestou atenção na conversa, ficou imerso nos seus pensamentos, lembrando-se de todos os momentos que passara com Pepita, sua melhor amiga da infância. Foi "acordado" por uma fala dela:

- Desculpe mais tenho que ir.

Enfim, ela entrega para ele um papel com seu número. Dá um último abraço nela, despedindo-se, e guarda o papel no bolso. O brinquedo para e eles se separam, ela indo para o carro e ele para outro brinquedo. Peter, antes de entrar na montanha russa, transfere o número que ela deu para a sua Lista de Contatos do celular. Diverte-se mais um pouco no parque, até o meio da madrugada, quando decide voltar para casa.