Prefeitura de Tulsa

Sai da casa de Peter sem destino específico.
Ele tinha sido legal comigo e até ofereceu sua casa para eu ficar, mas eu não queria abusar de sua bom vontade, nem tampouco trazer problemas para ele.

Não chovia e o sol estava escondido, o que não causava desconforto aos meus olhos, ainda que estivesse com meus óculos-escuros.

Eu conhecia Tulsa com a palma de minha mão; andei muito por aquelas ruas enquanto era humana. Fui andando para onde as pernas me levavam, eu estava me sentido ótima e forte; meus machucados estavam curados então andar rápido não era problema.

Cruzei uma praça, passei por uma avenida principal e logo avistei a prefeitura de Tulsa. Encostei em um poste e fiquei a observar o entre e sai de humanos, que equilibravam pastas de documentos , celulares e copinhos de café. O lugar estava muito movimentado.

Eu não me recordava da última vez que estivera naquele ponto da cidade; mas eu estava disposta a deixar Tulsa, e sentiria saudades daquilo tudo...eu tinha que olhar pela última vez......

Eu estava imersa em meus pensamentos quando senti alguém trombando em mim, o que me fez quase cair se não tivesse me apoiado no poste a tempo.
Era um garoto, um pouco mais alto que eu cai na minha frente do nada.
- Opa! - exclamo quase que imediatamente dando um passo para trás.

O garoto começa a tremer de uma forma estranha.
Algumas pessoas observam de longe. Aproximo dele, ajoelhando ao seu lado e sinto meu coração bater forte e aquele cheiro que eu conhecia de alguém lugar e não demorei a reconhecer. Ele cheirava como Gabriel, o ex-quase-namorado da Caty.

Fome... Carne... Rápido.... - ele diz fazendo eu arquear a sobrancelha esquerda.

Vejo ele abrindo e fechando os olhos repetidas vezes. Ponho a mão em seu rosto e sinto sua temperatura alta. Que garoto estranho, deusa! Seria parente de Gabriel? Vamp? Eu realmente não me lembrava dele na morada - penso

E mais curiosos começam a olhar aquela cena.
Minha intuição não disse para eu hesitar.
- Ei garoto - digo próxima a ele - aguenta ai que eu te ajudo.
E fechei os olhos alguns instantes para me concentrar. Eu precisava desviar a atenção daquela multidão, então olhei para uma das janelas do prédio da prefeitura e fiz com que uma fumaça saísse por ela, como seu houvesse um incêndio por lá.

Isso foi até fácil demais, eu estava forte depois de beber o sangue de Peter, nem me cansei.
Alguém a minha direita gritou: - Fogo! E aquela massa de gente começou a correr para todos os lados.

Fiz um esforço para sentar o garoto e disse - Vamos sair daqui - E levantei-me dando a mão para que ele levantasse e fossemos para algum lugar mais afastado.

Olhei para a esquerda e vi uma pequena rua sem saída, e um beco entre dois prédios antigos. - Vamos para ali - disse caminhando rapidamente com ele.

O garoto imediatamente correu até o velho e bem.....eu virei meu rosto para não ver ele acabando com o senhor.
E depois eu era a aberração.
Aquele garoto - ou seria uma fera? - acabou com a vida do humano e eu não consegui me mover para fazer nada, ou impedi-lo.

Ele depois de terminar o "serviço" virou-se e na maior naturalidade, ou seria cara de pau, e diz:

Olá... Err, desculpe-me por isso. - Não sou da morada, muito menos um vampiro como pode ver... Vai tentar me matar agora? Não é isso que vocês fazem com minha espécie?

E ele já estava parecendo um humano normal, ou quase isso.
Fiquei encarando ele alguns segundos e dei dois passos em sua direção.

- Eu não vou tentar te matar se não eu seria como você e entre nós há uma enorme diferença. - disse com raiva, fitando-o de cima a baixo.

- Nós não caçamos lobos, ao menos que seja necessário.....e aliás, eu achava que vocês estavam extintos....mas esse seu cheiro de cachorro está impregnando Tulsa. - a alegria que me contagiara na noite anterior eu já não mais sentia; ela foi substituída por um misto de pena daquele velho, curiosidade por aquele garoto e confusão mental.

Ele, daquele jeito, parecia tão normal.

- E porque não estaria viva? Ah claro, eu deveria te atacar? Já não me surpreendo mais a algum tempo. A propósito, sou Dyson Christopher Salazar, mas pode me chamar como você bem quiser... - ele diz logo de ter arremessado os restos do velho para o telhado.

Aquilo foi o de menos.
Observei que ele ficara pensativo e então perguntou-me sobre Mary.

Fiz uma cara surpresa por não esperar que ele conhecesse mais gente da morada. O garoto era cheio de segredos então....

- Mary...claro...sei quem é....a futura guerreira - disse sem saber se ele iria entender aquilo...... - Eer....não sabia que você a conhecia.......pelo jeito você não nos odeia tanto assim....isso...err...isso é bom - e minhas palavras saíram sinceras.

Dyson olhou de forma estranha para mim, como se eu tivesse falado algo muito errado:
Porque eu odiaria? Posso ter meus motivos para odiar um, mas não generalizo esse sentimento. Não tenho motivos para odiá-los, mas sim para temê-los. Caso contrário eu teria ido com Isabelle para a Morada.

- Você também conhece a Bells? - perguntei com surpresa novamente
Isso só poderia significar duas coisas:
1. Os formandos estavam muito descuidados ao andarem por Tulsa sozinhos.
2. Mas apesar de tudo, ele aparentemente não faria mal a mim.

E então disse - Desculpe se o julguei mal, mas eu não sei bem como lidar com vocês, não sei quantos são, como agem e quem são...

- Muitos nos julgam mal também; para muitos somos aberrações. - disse soando um pouco triste.

Fiquei observando ele "farejar" aquele beco. Aquilo pareceu um pouco engraçado, mas segurei para não rir.
Ele sentou e abriu espaço para que eu sentasse também.
Eu hesitei no começo, mas sentei ao seu lado enquanto ele explicava que tinha sido transformado na noite anterior e que Rafael tinha uma alcatéia. (oi?)
Aquele humano que eu encontrei no dormitório deveria ser um dos primeiros então......o cheiro de cachorro era impossível de não ser lembrado.

Eu não entendia porque ele era um traidor...mas isso...Dyson poderia me explicar algum dia se nos encontrássemos novamente.

Vi que ele socou o chão um pouco nervoso, mas não disse nada.....fiquei na minha observando as suas reações. Lobos, seres um tanto diferentes de nós, mas talvez com o mesmo nível de angústia.

Passamos algum tempo lá, e vi que Dyson ainda estava inquieto. Será que ele iria devorar mais alguém? Eu não entendia a fisiologia dos lobos, mas sabia que eu não queria presenciar esta cena novamente.

Virei-me para ele, fitando-o e lhe disse: - Quando eu fui para a morada, há 3 anos, eu encontrei pessoas lá que me ajudaram a passar e aceitar a transformação. Foi um período e ainda é algo difícil, mas é mais difícil se estás sozinho, no nosso caso é impossível eu diria.... -e disse isso enquanto rabiscava o chão com uma pedrinha....

Me levantei e o fitei - Você já sabe meu nome, se algum dia precisar que te resgate da multidão novamente, me chama - e pisquei com um dos olhos para ele ensaiando um sorriso

E então sai daquele beco, deixando Dyson para trás. No local onde eu estava sentada, ficou meu número rabiscado no chão.

ENCERRADO